Já passou, mas não passou despercebido. Talvez tenha sido obra do demónio; pode ter sido obra do demónio (Chico Sábio, leceiro, que está bêbedo desde 1976 quando a mulher lhe desapareceu de Angola, conhece estas coisas do demo, e garante que foi o chifrudo).
Conta-se assim o que só hoje é possível contar, mas garanto que o assunto foi mais do que discutido, inclusive pelo Chico Sábio (“foi o gajo, garanto-lhe”).
Foi num dos últimos dias de Novembro, umas 15 horas, eis-me no pára-arranca, a sair de Leça rumo ao Porto. Com entrevista marcada com um daqueles tipos que não gostam de esperar. Ainda estou na Quinta da Conceição, e isto que não anda. Quem é da terra tem obrigação de conhecer os caminhos que os forasteiros ignoram. Vou a Santa Cruz do Bispo e meto-me depois pelos atalhos?
Não, vou mesmo na bicha, hei-de lá chegar.
Nem dois minutos depois a bicha andou um metro. Que bicha!
Pára-arranca, pára-arranca, pára-arranca. Chego, enfim, à faixa de aceleração da A28 em obras.
(queres ver que este boi não me vai deixar entrar? Deixou! Uff,! Obrigado amigo).
A que horas vou eu chegar ao Porto? Soubesse eu disto e tinha seguido o conselho do Chico Sábio. (“Fique-se por Leça”).
A verdade é que já sobrava impaciência. E fazer inversão de marcha?! Quatro horas (ou 16 horas da tarde como pomposamente anunciaram outro dia na TVI a hora de um jogo de futebol) e à minha direita ainda estava o Porto de Leixões. Lá ao fundo, a ponte móvel, peço perdão, a ponte imóvel, fechada ao trânsito de peões e carros, óptimo para o ego separatista Leça-Matosinhos, mau para o negócio. Sim, muito mau para o negócio. Uma ponte com uma doença mais típica de jogador de futebol, é dose. Foi-se uma rótula e a ponte, peço perdão, ficou de cornos no ar. Não é todos os dias que avaria uma rótula de uma ponte móvel.
Sim, talvez tenha sido coisa do demónio a coincidência de avariar a ponte móvel e, ao mesmo tempo, terem iniciado as obras na A28. E a juntar a isso, a colaboração notável de quem manda chover porque choveu muito pelo menos num dos últimos dias de Novembro, quando o povo já começava a disparar para os centros comerciais rumo ao Natal. Tudo junto, foi o demo.
Quase cinco horas da tarde. Solto um palavrão. Estou na Rotunda dos Produtos Estrela. Foi-se a entrevista, e o tipo nem sequer acreditou na minha justificação. Inversão de marcha para Leça.
Nesse dia, cheguei de noite a casa. Sem entrevista, só com a vontade de beber para esquecer. Doem-me os pés, o cujo, a cabeça.
Viveram-se traumas profundos em Leça e Matosinhos enquanto a ponte móvel não recuperou da lesão. Perguntem aos donos dos restaurantes, principalmente a esses. Talvez lhes respondam com um sorriso azedo que foi o demónio que andou na zona, mas pode ter sido também incompetência e falta de sensibilidade de quem manda nas estruturas que ligam as duas localidades. O demónio tem muitos nomes. Desculpa, Chico.