Esse dia chegou e o resultado é um tinto elegante e que ainda tem muito para dar. Evoluiu bem – muito bem – em garrafa, mas o mais interessante neste topo de gama feito a partir de vinhas velhas – com bagos de videiras que hoje têm mais de 70 anos, quase todas no Cima Corgo – é que ele ainda está aí para as curvas.
Foi feito ‘à moda antiga’, com pisa a pé e fermentação em lagares de granito e balseiros de carvalho e estagiou depois em barricas novas de carvalho francês. O lote que a Lavradores de Feitoria agora coloca no mercado fez um ‘segundo’ estágio, em garrafa. E deste Três Bagos Grande Escolha tinto 2005 de “Estágio Prolongado” (PVP 60 euros) só há 1.000 garrafas, para os mercados nacional e internacional. Uma verdadeira preciosidade.
Há 10 anos, a empresa – criada em 2000, une 15 produtores, proprietários de 18 quintas distribuídas pelos melhores terroirs do Douro, e produz 800.000 garrafas por ano – entendeu que o Três Bagos Grande Escolha devia ser lançados em 2 fases distintas. Este 2005 de “Estágio Prolongado” é o primeiro de vários ‘relançamentos’ que pretendem homenagear a capacidade de envelhecimento dos vinhos do Douro, mostrar como evoluem e como compensa guardá-los na cave.
Se antes os responsáveis da Lavradores de Feitoria diziam que sim, que estes néctares envelheceriam bem, agora têm a certeza. E, embora o 2005 seja o primeiro a ser relançado, a Lavradores de Feitoria guardou algumas garrafas dos ‘Grande Escolha’ de 2001, 2003 e 2004, vinhos que deu a provar a um grupo de jornalistas, há dias, num evento no restaurante Victa.
Com 14 anos, a primeira edição do Três Bagos Grande Escolha – aliás, a segunda, já que a empresa fez este topo de gama em 2000; não sobraram foi muitas garrafas para contar a história… – impressiona hoje pelos taninos ainda jovens e pela frescura que apresenta. Já o 2004 está “perfeito”, “no ponto”, diz Paulo Ruão, que chegou à empresa nesse mesmo ano, mas só para engarrafar o vinho já feito. Eu não o diria melhor do que o diretor de enologia da Lavradores de Feitoria.
Na opção de relançar o 2005, pesou a longevidade que este Grande Escolha ainda oferecia. De um vermelho vivo, intenso e profundo, o Três Bagos Grande Escolha tinto 2005 com “Estágio Prolongado” tem um nariz intenso e rico, com aromas a fruta fresca, algumas especiarias e notas fumadas. A boca é envolvente e equilibrada. Um vinho fresco, com taninos macios e uma acidez surpreendente, que persiste na língua bem depois de ele escorregar.
Do ‘Grande Escolha’, e depois de 2005, foram lançadas as colheitas de 2007 e 2008 – que a Lavradores de Feitoria relançará então quando estes vinhos estiverem no seu pleno – e hão de chegar ao mercado as de 2009 e 2011. Segundo Olga Martins, diretora executiva e comercial da empresa – agraciada recentemente pelo Presidente da República com o grau de Oficial da Ordem do Mérito Empresarial, Classe do Mérito Agrícola –, o tempo de estágio em garrafa até ao relançamento não será obrigatoriamente de 10 anos. Será vinho – e a equipa de enologia – a ditar esse timing.
Uma nota final para o facto de estes ‘Grandes Escolha’ terem todos origem nas mesmas quintas, mas cada um deles ser uma mistura diferente, ou seja, as vinhas são sempre as mesmas, mas a proporção de cada vinha não é a mesma.
A terminar, não podia deixar de vos falar também do Três Bagos Colheita Tardia 2011 (PVP 10 euros), a ‘surpresa’ que selou, juntamente com o bavarois de maracujá, uma refeição soberba. Os aromas tropicais desta late harvest casaram na perfeição com a sobremesa preparada pelo chefe Nuno Maia. Quando a provámos, ela ainda não estava no mercado. É ficar atento, já que também deste vinho foram produzidas poucas garrafas…
Comecei a conhecer o mundo do vinho em 2009 à boleia da minha colaboração com o suplemento “GPS” da revista Sábado – o antecessor do “Tentações”. E foi, já no semanário SOL – publicação com quem ainda hoje colaboro – com pezinhos de lã que comecei a escrever sobre um mundo que é tão interessante como complexo. Escrevi sobre os negócios, a inovação na produção, os novos lançamentos, o enoturismo… e apaixonei-me pelo sector. Na “Roda dos Vinhos”, falo-vos de vinhos e conto-vos histórias à volta do vinho e dos vinhos.