
Foto: Arq/Carlos Romão
Alguns comerciantes do troço nascente da Avenida da Boavista, no Porto, dizem-se “muito preocupados” com os prejuízos que as obras de requalificação a decorrer desde quarta-feira naquela via lhes possa causar.
“A Câmara Municipal do Porto ou alguém devia indemnizar os comerciantes por todo este transtorno. Ainda há poucos anos aqui fizeram obras por causa da Casa da Música e já vão voltar a mexer”, critica Afonso Fonseca, proprietário da Casa da Raviera, ali instalada há 68 anos.
O comerciante considera que “estão a gastar dinheiro mal gasto” por ser “a terceira vez que vão mexer na avenida. Nunca é definitivo”.
“Isto já está péssimo, agora vai agravar-se muito mais. Dizem que as obras terminam em Novembro, mas nós sabemos que os prazos neste país nunca são cumpridos”, lamenta o comerciante, admitindo, contudo, que não conhece o projecto de requalificação da Avenida da Boavista.
Afonso Fonseca refere ainda que nas últimas obras ali realizadas teve “um prejuízo enorme”.
“Os clientes desviam-se e nunca passam nesta zona. Esta parte da avenida vai ficar deserta”, sublinha.
Também Carlos Magalhães, dono da Drogaria Avenida, considera que “estas obras não eram necessárias” porque “vão estragar uma coisa que está feita e está bem”.
“Só nos traz prejuízo. As obras só começaram ontem e nós já notamos uma diminuição de clientes”, afirma, referindo também os prejuízos sofridos por ocasião da última intervenção naquela zona da avenida.
Opinião contrária tem Manuel Viseu que considera que se trata de “uma grande melhoria para a cidade”.
Referindo que conhece o projecto de requalificação daquela via “pelos jornais”, Manuel Viseu acredita que a avenida ficará “extraordinária” se ficar como a zona poente, onde as obra já foram concluídas.
Manuel Viseu diz compreender a preocupação dos comerciantes, tendo mesmo sugerido aos donos das lojas que peçam contrapartidas à Câmara, por exemplo, isenção do IMI.
Moradora há 47 anos num edifício em frente à Casa da Música, Delfina Pinho confessa não saber o tipo de obras programadas para aquela zona, mas diz que lhe agrada a ideia de ter “lindos vasos de flores” à porta.
“Se fizerem o mesmo tipo de obras que fizeram lá em baixo (troço poente), acho que vai ficar bonito”, acrescenta.
Apesar de totalmente encerrada ao trânsito entre a Rotunda da Boavista e o cruzamento com a Rua de Agramonte, a circulação rodoviária fluía esta quinta-feira com normalidade naquela zona da cidade, com o desvio dos automóveis para ruas alternativas.
Trânsito condicionado até Novembro
O troço nascente da Avenida da Boavista, a maior via urbana do Porto, está desde quarta-feira encerrada para requalificação, com obras de instalação de infra-estruturas que vão condicionar o trânsito e o estacionamento até 9 de Novembro.
Segundo avançou recentemente à agência Lusa o Departamento Municipal de Gestão da Via Pública da Câmara do Porto, a empreitada em curso obriga ao “estreitamento da via de circulação [automóvel] dos 2 lados da avenida”, estando neste momento a realizar-se junto ao cruzamento com a Rua de Agramonte.
A obra pretende “deslocalizar as infra-estruturas existentes das diferentes operadoras de telecomunicações para novos alinhamentos”, no âmbito de trabalhos a realizar previamente à requalificação daquele segmento da maior artéria urbana da cidade.
Para o efeito, vão ser abertas e fechadas valas “para a instalação de tubagens”, após o que será reposto provisoriamente o pavimento e construídas as “caixas de visita, de acordo com os projectos fornecidos pelas diferentes operadoras”, acrescentou, na mesma informação, o Departamento Municipal de Gestão da Via Pública.
Duas ciclovias instaladas junto aos passeios, uma em cada um dos sentidos da avenida, e uma saída para o parque de estacionamento da Casa da Música no meio da via são 2 das mudanças previstas pela Câmara para a requalificação a realizar entre a Rotunda da Boavista e Bessa Leite.
Entre tantas obsessões com uma única avenida, esquecem-se do muito que falta fazer em tantos espaços negligenciados da nossa cidade…
Concordadndo com o Porto Sombrio, gostaria de acrescentar que parece que estou a ver uma reprise do filme da Porto 2011. Curiosa- e estranhamente não ouvi ninguém queixar-se das obras na zona de Mouzinho da Silveira, Flores, Largo S. Domingos, Rua de S.João e Praça do Infante…
Caro José Nogueira, provavelmente não tem havido queixas por parte de comerciantes porque cada vez há menos nessa zona. Apesar de ter havido um pequeno ressurgimento na Rua das Flores, esse núcleo está vez mais abandonado.
Se há uns anos apenas o piso térreo dava vida à rua, agora nem isso. Esforços autistas da SRU concentrados em dois quarteirões foi no que deu…
Será que se houvesse outra vez habitantes nessas ruas, não surgiria automaticamente outra vez o chamado comércio de rua? Parece uma pergunta do Sr. de La Palisse! Apesar de viver nos arredores do Porto, já não suporto Centros Comercias e Hipers. Cada vez sou mais adepto do comércio de proximidade, apesar de ter que me deslocar à Baixa aos sábados e isso tem custos. Já me chamaram um lírico! A verdade é que gostaria imenso de viver no Centro do Porto mas… os preços que pedem por um simples T1 (já nem falo dos T2) tornam esse meu sonho proibitivo. Como é que se fez noutras cidades europeias? Deixaram tudo ao Mercado e à especulação imobiliária ou o Estado interveio a sério?